E sobre a Páscoa?

Pense por um instante na mistura de sentimentos que um pastor enfrenta ao ser convocado para pregar em datas de altíssima importância. Por onde começar? Ao mesmo tempo que são inúmeras as mensagens e conteúdos sobre o tema, vistos de diferentes ângulos, também é imensa a alegria de recontar e refletir acerca de celebrações como o Natal e a Páscoa. O coração arde diante do privilégio de conduzir as pessoas ao entendimento profundo de como o maior problema humano foi solucionado. Eis a questão sobre a Páscoa, nestes dias que a antecedem.

Nas mitologias anglo-saxã, nórdica e germânica, Eostre (ou Ostara) era a deusa da fertilidade, do amor e do renascimento, simbolizada pela lebre (ou coelho) e o ovo. Eram feitas celebrações para a deusa a fim de alcançar os recomeços almejados; durante essas festas, as pessoas presenteavam ovos coloridos aos familiares e amigos como um símbolo de sorte e prosperidade. No hemisfério Norte, a data das comemorações coincidia com o equinócio de primavera, isto é, a segunda quinzena de março.

Já àquela altura as crianças eram as que mais se divertiam com a troca de ovos, mas no decorrer do tempo as tradições foram ressignificadas e adaptadas a cada novo contexto em que chegavam. Nos Estados Unidos, por exemplo, o cacau processado se tornou a base da culinária festiva e, logo após, comercial do período. Com o passar do tempo e das mudanças socioculturais e religiosas, não é de admirar que calendários e festas tenham se associado à Páscoa cristã.

No segundo livro da Torah (Pentateuco), intitulado Êxodo, o capítulo 12 nos mostra em detalhes como se deu a matança dos primogênitos — a última das dez pragas do Egito por ocasião da saída dos israelitas. A partir desse acontecimento vemos que no décimo dia do mês de abib (calendário cananeu) ou nisan (calendário babilônico), mais ou menos entre março e abril no calendário ocidental, cada família deveria escolher um cordeiro macho, sem defeito e de um ano, a ser sacrificado ao entardecer do décimo quarto dia, aspergindo com hissopo seu sangue nas laterais e nas vigas superiores da porta da casa. 

O sangue servia como indicativo das casas onde estava sendo celebrada a Páscoa, que em hebraico é pesah, ou seja, passagem. Esse sangue era o preço pago pelos primogênitos israelitas: o destruidor “passaria adiante”, um ato de livramento. Qualquer pessoa que perguntasse a um israelita qual a razão de comemorar a Páscoa ano após ano receberia a resposta: “Éramos escravos no Egito e devido ao sangue do cordeiro perfeito fomos libertos e constituídos povo de Deus”. Mas como a Páscoa chega até nós, cristãos não israelitas?

Sabemos que todas essas cerimônias apontavam para o significado pleno da libertação em Jesus; não de um povo tirano, mas de nossa condição de pecado e afastamento de Deus. A vida de Cristo e Seu sacrifício em nosso favor marcam o tríduo pascal, ou os três grandes dias, mais conhecidos como Sexta-feira da Paixão, o Sábado Santo e o Domingo da Ressurreição. Através dos gloriosos acontecimentos que marcaram esses dias é possível ao ser humano ter paz com Deus e a salvação por meio de Jesus (Jo 20.19-21, 26; Is 9.6, 53.5). Vamos relembrar alguns aspectos de cada um deles.

Na Sexta-feira da Paixão somos convidados a fixar os olhos em uma cena para a qual normalmente viraríamos o rosto: o sofrimento de Jesus. Corpo machucado. Rosto desfigurado. Dor e sangue. Escárnio e humilhação. Abandono e morte. O preço humanamente impagável do pecado agora foi pago em um único sacrifício. A ira de Deus contra cada ofensa por Ele sofrida agora está derramada sobre Aquele que, como um cordeiro puro, não tinha pecado, mas se fez pecado. A cruz é a lembrança de que não existe injustiça despercebida ou impune aos olhos do justo Juiz de toda a Terra. Cada ofensa recebida, cada dor injusta sofrida, cada vida ceifada pela maldade, cada lágrima derramada pela violência, nada disso sairá impune!

Uma sugestão para rememorar este aspecto da Páscoa é ver a sexta-feira como um dia de lamentar, chorar, se arrepender e confessar nossas injustiças. Jesus foi moído por elas. Nós que blasfemamos, cuspimos e O pregamos na cruz. Ainda assim, Seu sangue precioso nos conduz ao Seu Reino. O castigo que nos trouxe a paz. Jejue e ore em secreto; ceie com os irmãos.

No Sábado Santo somos convidados a lembrar o dia em que Jesus esteve sepultado. Não se ouviu Suas palavras, nem se viu Seus milagres. Apenas a tumba com uma pedra na frente e um corpo sem vida dentro. Neste dia vivemos novamente os dias em que não vemos o agir de Deus. Olhamos ao redor e tudo o que vemos é uma lembrança de algo que não está mais lá, de uma alegria que se foi. Clamamos a Deus em desespero, mas o que nos resta é apenas o silêncio frio de um túmulo. A esperança está no meio de sua agoniante espera.

Eis uma incômoda realidade: a Bíblia está repleta de clamores indignados, situações angustiantes que parecem não mudar. Ainda que, em muitos momentos, o que sintamos é solidão e silêncio, Deus continua agindo no controle soberano da História, que inclui a nossa história. Por isso, a sugestão para o sábado é de vê-lo como um dia de clamar ao Senhor e pedir socorro no silêncio. Abrir o coração e confessar a necessidade extrema de Sua intervenção, descansando na certeza de que ainda que você não O veja, ouça ou entenda, Ele continua agindo e conduzindo-o ao seu Reino. Passe um turno em solitude e silêncio!

No Domingo da Ressurreição podemos nos alegrar juntos com a ressurreição de Jesus. Ele foi trazido de volta à vida. Suas palavras novamente ouvidas, e finalmente compreendidas. A morte foi derrotada e Ele nos enviou para anunciar essa boa notícia: a luz brilhou sobre as trevas. A falta de esperança se foi quando as profecias sobre a vinda do Messias se cumpriram. Fomos libertos do cativeiro da morte e do pecado. Ele se fez Emanuel, “Deus com a gente”. Se fez cordeiro sem mácula e sacrifício permanente. Se tornou nosso sacerdote para sempre.

Eis uma alegre mensagem: as Escrituras testemunham o arrependimento e a conversão de muitas pessoas. Gente que vivia sem eira nem beira, e que agora faz parte da família de Deus. Podemos ser usados pelo Pai, conforme anunciamos o Filho, no poder do Espírito, para nos aproximar, servir e amar os que estão sedentos! A sugestão para o domingo é cantar ao Senhor a plenos pulmões. Lembre quando e como você O conheceu e emita palavras de gratidão. Elogie Sua autoexistência, eternidade, infinitude, perfeição, soberania, justiça, bondade, graciosidade, fidelidade e infindos atributos. Cultue com irmãos da sua igreja!

A Páscoa é uma celebração de contrição, espera e alegria em Cristo, com um significado superior a qualquer outra associação. É a vida de Cristo sendo vida na história humana e a única esperança para o mundo sendo sacrifício de Deus por nós.

 Texto: Joyce Medeiros e Ednardo Duarte
Revisão: Luiza Zagonel

 

 

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