Histórias de um missionário brasileiro na Sérvia

Entrevistar o André Marotto foi como conversar com uma pessoa importante, de grande experiência, capaz de construir uma sensação de familiaridade natural — um desconhecido que é “dos nossos”, mas que a gente ainda não sabe. Tivemos o prazer de estar com a família Marotto durante o treinamento dos acampamentos de inverno e tê-lo como professor do módulo sobre missões transculturais, o que foi um grande privilégio, considerando-se o tempo que ele passou sem visitar o Brasil. Na entrevista teve café, que a entrevistadora tomou a goles, sem perceber que o entrevistado provavelmente queria era um bom chimarrão!

A conversa fluiu naturalmente, um bom exemplo de como funciona a educação informal: ali tínhamos um testemunho de vida ativo, falante, na nossa frente, contando os causos e as bençãos.

Fique a seguir com essa bela entrevista!

Oi, Marotto! Conta pra gente um pouco sobre a sua trajetória em missões, estamos curiosos!

Sou André Marotto, brasileiro, e em 1995 fui como voluntário servir no Redcliffe College, na Inglaterra. O Redcliffe era uma instituição de ensino muito conhecida, que preparava missionários para o campo, pessoas de diferentes lugares, para diferentes propostas ministeriais. Eu era bem jovem e fiquei dois anos fazendo o que era necessário ali. Em 1997 ingressei na mesma instituição como aluno de teologia e missiologia, concluindo o curso em 2001. Durante esse tempo conheci minha futura esposa! Conheci também campos de refugiados na Sérvia, Croácia e Inglaterra, e fazer esses estágios foi muito importante para mim.

Passado o tempo do curso, voltei para o Rio Grande do Sul, já casado, procurando ser enviado pela minha igreja como missionário, o que não aconteceu. Ficamos cinco anos aqui e retornamos com algumas propostas de trabalho para professor de inglês, ao mesmo tempo que serviríamos à igreja na Sérvia. E assim aconteceu! Em 2008 fundávamos com mais alguns amigos a Comunidade Internacional de Belgrado, igreja onde trabalhamos, aprendemos e servimos a Deus até 2015. Nesse mesmo ano, comecei a integrar o quadro do TeachBeyond como obreiro, fazendo mobilizações missionárias, traduções, English Camps e trabalhando em outras áreas.

Em 2021, o TeachBeyond me convidou para trabalhar com refugiados, dentro do ministério do Beyond Borders, fundado em 2016, para ser o coordenador de educação. A partir do campo de refugiados em Lesvos, na Grécia, nossa equipe multicultural começou a desenvolver materiais no âmbito da educação pós-trauma, com desenhistas, educadores, psicólogos e outros. Fazemos o currículo pensando em apoio psicossocial aos alunos, atividades regulatórias (regulação emocional), educação em valores e educação transformadora.

Entre equipe, fazemos reuniões online, mas também visitas aos campos de refugiados, treinamento e capacitação de professores e parcerias com pessoas-chave que possibilitam que o trabalho seja feito a partir de uma visão comum, alinhada aos valores do TeachBeyond. Graças a Deus, temos tido oportunidades muito ricas de entrada nesses campos e confiança, por parte das instituições governamentais, na seriedade do nosso trabalho. Temos muitos desafios também, mas as coisas têm andado.

Muito legal! Pensando na disciplina ministrada aos alunos do STG e na sua experiência em trabalhar e viver tanto tempo com pessoas de outras culturas, que conselhos você daria para pessoas que estão iniciando esse processo de adaptação cultural?

Sentar, observar, entender a cultura e suas dinâmicas e aprender o idioma. Hoje em dia, materiais sobre vida missionária consideram como missionários de longo prazo aqueles que conseguem permanecer por mais de 4 anos em um mesmo campo. É um dado muito importante de ser observado, se a gente compara com gerações anteriores que consideravam longo prazo missionários de dez, quinze, vinte anos. Muitos dos novos missionários da nossa época têm dificuldades com esses aspectos de adaptação cultural e não querem fazer esse movimento. Para mim, os dois primeiros anos devem ser focados principalmente nos aprendizados necessários para viver fora de sua cultura. Aprender o idioma é essencial porque ele fala muito sobre o que é importante para aquelas pessoas. E, acredite, esses primeiros anos passam muito rápido!

É um aprendizado cansativo, porque nas pequenas coisas, coisas que você nem observa na sua própria cultura e faz no automático, você reaprende novos costumes. E precisa entendê-los. Eu perguntava muita coisa para a minha esposa.

Foi uma longa jornada até aqui, eu percebo. Lembrando esses movimentos e como vocês se sentiam com as mudanças, que conselhos você daria ao seu “eu” de 20–30 anos atrás, recém-saído do seminário, descobrindo seus rumos ministeriais?

Um conselho que eu daria é para desenvolver um canal de comunicação mais aberto com a igreja local, a respeito dos seus objetivos e daquilo que Deus tem colocado no coração. Diria para ter um desenho de tempo delimitado e informar isso para a liderança, para que eles também possam discutir as decisões em um tempo bom para todos.

Obrigada por estar com a gente nesse tempo! Até a próxima!

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