O SOFRIMENTO NA VIDA CRISTÃ

O sofrimento é algo que está e estará presente na vida, tanto de cristãos quanto não cristãos, até a volta de Jesus Cristo. Elisabeth Elliot define sofrimento como “ter o que você não deseja, ou desejar o que você não tem” — isto é, nós não escolhemos sofrer e o sofrimento sempre será algo contrário ao ideal ou ao que desejamos.

Vemos inúmeros personagens na Bíblia que sofreram muito e a Bíblia não deixa de mostrar a glória de Deus por meio do sofrimento deles. Provavelmente o exemplo mais recorrente quando se fala de sofrimento na Bíblia é o livro de Jó, que perdeu bens, posses, pessoas e continuou firme em Deus, mesmo com as pessoas mais próximas o incentivando a largar a Deus; porém, Jó foi firme e perseverou nos caminhos do Senhor.

Após todo o sofrimento, Deus abençoou Jó com o dobro do que ele tinha antes, e este viveu mais 140 anos em plenitude, conforme Jó 42.16,17: “Depois disso, Jó viveu 140 anos e viu quatro gerações de filhos e netos. Então morreu, depois de uma vida longa e plena.”

Outro personagem bíblico que sofreu muito foi o apóstolo Paulo. Ele foi preso e açoitado inúmeras vezes; desde o início de seu ministério, foi perseguido, e inclusive foi morto pelo evangelho de Cristo. Porém, Paulo deixa claro em suas cartas e epístolas que estava feliz em sofrer pelo evangelho, como está escrito em 2 Coríntios 12.10:

Por isso aceito com prazer fraquezas e insultos, privações, perseguições e aflições que sofro por Cristo. Pois, quando sou fraco, então é que sou forte.

Paulo, ao contrário de Jó, não foi recompensado com coisas terrenas. Aos olhos do mundo, Paulo morreu como um tolo, velho, sozinho, fracassado. Mas aos olhos de Cristo e dos cristãos, Paulo foi um herói, proclamador das boas novas, servo de Cristo e com certeza a vida dele era muito abençoada por Deus e será muito recompensada na eternidade.

O sofrimento é tão inevitável que o nosso maior exemplo, Jesus Cristo, o Deus na Terra, sofreu mais que qualquer outro; nós demos o pior destino para a melhor pessoa que pisou neste mundo.

A Bíblia nos mostra as aflições de Jesus anteriores à cruz, quando Ele orou no Getsêmani e suou sangue(Lc 22. 41–44):

Afastou-se a uma distância como de um arremesso de pedra, ajoelhou-se e orou: ‘Pai, se queres, afasta de mim este cálice. Contudo, que seja feita a tua vontade, e não a minha’. Então apareceu um anjo do céu, que o fortalecia. Ele orou com ainda mais fervor, e sua angústia era tanta que seu suor caía na terra como gotas de sangue.

 

NENHUM SOFRIMENTO É EM VÃO

Pensando nisso, podemos dizer que nenhum sofrimento é em vão. Elisabeth Elliot, esposa do missionário Jim Elliot, assassinado pelos indígenas que tentava evangelizar, escreveu um livro chamado O sofrimento nunca é em vão (2020), onde ela conta suas histórias e reflete sobre o sofrimento. Neste livro Elisabeth diz:

se confiarmos nEle dessa forma, podemos chegar à segurança inabalável de que ele está no comando. Deus tem um propósito amoroso. E ele pode transformar algo terrível em algo maravilhoso. O sofrimento nunca é em vão.

Claro que não podemos descredibilizar a dor do sofrimento, e muitas vezes não entenderemos o motivo dele acontecer. Frequentemente ouvimos histórias de pessoas que passam por situações inimagináveis, nas quais sentem muita dor, ou perdem tudo e todos que já tiveram ao lado. Ou como os cristãos, sendo servos do Criador, sofrem constantemente nas mãos deste mundo, onde muitos missionários são mortos, e até mesmo cristãos são perseguidos em seus trabalhos e lares. Porém, temos de ter a certeza e a segurança em Deus de que todo sofrimento que vier a nós é para nosso amadurecimento e a glorificação de Cristo.

Quando pensamos nos cristãos, temos que ser realistas e saber que seremos constantemente perseguidos. A Bíblia deixa isto claro em inúmeras passagens, inclusive o próprio Cristo disse isto para nós no evangelho de Mateus:

Tudo isso, porém, será apenas o começo das dores de parto. Então vocês serão presos, perseguidos e mortos. Por minha causa, serão odiados em todo o mundo. Muitos se afastarão de mim, e trairão e odiarão uns aos outros.

A partir do momento em que nos proclamamos servos e seguidores de Cristo, estaremos totalmente contra o mundo em que vivemos e saberemos que este mundo não é onde deveríamos estar e não é nosso destino final. Dizendo isto, o mundo passará a nos odiar. Por este motivo muitas passagens da Bíblia falam sobre a discordância da verdade da Palavra com aquilo que o mundo diz.

E para as pessoas que não acreditam nas palavras de esperança que nós acreditamos, o sofrimento não tem sentido, é só dor e angústia. Há alguma razão para tanto sofrimento? Há alguma razão para acreditarmos que nenhum sofrimento é em vão? Sempre pensamos em um Deus amoroso e justo, porém, por que este Deus deixa Seus filhos sofrerem? Não é novidade alguma que estas perguntas são de difícil resposta, mas Elisabeth Elliot escreve a seguinte frase em seu livro:

Estou convencida de que há um bom número de coisas nesta vida sobre as quais nada podemos fazer, mas com as quais Deus deseja que façamos algo.

 
DEUS PARTICIPA DE NOSSAS DORES

Sabemos que Deus está conosco em todos os lugares e em todos os momentos de nossas vidas. A Bíblia repete isso muitas vezes. Em Josué 1.9 diz: “Não se apavore nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar”; Jesus também diz isto em Mateus 28.20: “ensinando-os a obedecer a tudo o que eu ordenei a vocês. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”; o Salmo 139 (principalmente nos versículos 1–13) fala sobre a presença de Deus. Leia atentamente.

Senhor, tu me sondas e me conheces. Sabes quando me sento e quando me levanto; de longe percebes os meus pensamentos. Sabes muito bem quando trabalho e quando descanso; todos os meus caminhos te são bem conhecidos. Antes mesmo que a palavra me chegue à língua, tu já a conheces inteiramente, Senhor. Tu me cercas, por trás e pela frente, e pões a tua mão sobre mim. Tal conhecimento é maravilhoso demais e está além do meu alcance, é tão elevado que não o posso atingir. Para onde poderia eu escapar do teu Espírito? Para onde poderia fugir da tua presença? Se eu subir aos céus, lá estás; se eu fizer a minha cama na sepultura, também lá estás. Se eu subir com as asas da alvorada e morar na extremidade do mar, mesmo ali a tua mão direita me guiará e me susterá. Mesmo que eu dissesse que as trevas me encobrirão, e que a luz se tornará noite ao meu redor, verei que nem as trevas são escuras para ti. A noite brilhará como o dia, pois para ti as trevas são luz. Tu criaste o íntimo do meu ser e me teceste no ventre de minha mãe.

Se afirmamos que Deus participa de todos os momentos de nossas vidas, também afirmamos que Ele participa de nossas dores e sofrimentos. Mas por que Deus permite o sofrer de Sua própria criação?

Esta é uma pergunta muito comum e de difícil resposta. Quando Deus criou a humanidade, ela era perfeita e sem nenhum defeito, mas com a queda, o pecado entrou no mundo e o contaminou. Toda dor, todo sofrimento e toda angústia vêm do pecado, seja direta ou indiretamente. Todo sofrimento é consequência do pecado; Deus, por nos dar o livre arbítrio, deixou tomarmos a decisão de pecar.

Então, Deus não deseja que nós tenhamos sofrimento; o sofrimento é uma consequência das nossas escolhas. No plano perfeito de Deus não existiria sofrimento nem angústia. Deus permite o sofrer, pois é um Deus de justiça e tem absoluto respeito pelo livre arbítrio.

Pensar que Deus está conosco até em nossos sofrimentos e dores é muito reconfortante, mesmo que muitas vezes não entendamos certas situações. Sabemos que Deus é um Deus de justiça, mas também sabemos que Deus é um Deus de amor. Ele nos ama incondicionalmente e não quer nos ver em situações de sofrimento, porém Ele usa o sofrer para mostrar sua graça, e através de situações de sofrimento, trabalhar o amadurecimento de Seus filhos. Paulo fala isto em 2Coríntios 1.5:

Pois, quanto mais sofrimento por Cristo suportarmos, mais encorajamento será derramado sobre nós por meio de Cristo.

Devemos entender que Deus está conosco em todos os lugares e que todo sofrimento tem um propósito. Devemos descansar em Cristo e termos coragem quando passarmos por tribulações. Davi escreve sobre isso no Salmo 23, um trecho muito famoso na Bíblia,

Mesmo quando eu andar pelo escuro vale da morte, não terei medo, pois tu estás ao meu lado. Tua vara e teu cajado me protegem.

Neste salmo de reflexão sobre a presença e o zelo de Deus, Davi escreve exatamente o que quero dizer aqui. Mesmo no vale da morte, Deus está ao meu lado, e me protegerá, por isso, não deverei ter medo.

 
O SOFRIMENTO E A ALEGRIA

Além de suportarmos em Cristo todo nosso sofrimento, devemos nos alegrar através do sofrimento. Charles Spurgeon traz uma ideia muito interessante sobre a relação da alegria com o sofrimento. Em seu livro A alegria em meio ao sofrimento (2016), ele escreve isto:

A alegria é a condição normal de um crente. Seu estado ideal, seu estado são, é felicidade e alegria. Como muitas vezes eu tenho lhes lembrado, ser feliz se tornou um dever cristão.

Nós vemos em várias passagens bíblicas a afirmação de que devemos nos alegrar no Senhor, como em João 15.11: “Tenho dito estas palavras para que a minha alegria esteja em vocês e a alegria de vocês seja completa.”; ou em Filipenses 4.4: “Alegrem-se sempre no Senhor. Novamente direi: Alegrem-se!” e em muitas outras temos esta afirmação. Nós, cristãos, temos mais motivos para nos alegrar do que para nos entristecer. Temos muitas tristezas e sofrimentos, porém Paulo fala exatamente sobre isso em 2Coríntios 6.10: “Nosso coração se entristece, mas sempre temos alegria. Somos pobres, mas enriquecemos a muitos outros. Não possuímos nada e, no entanto, temos tudo”. Considero este versículo espetacular, pois Paulo afirma que, por nós mesmos, somos pobres, porém, com a alegria que vem de Cristo, podemos enriquecer ao contagiar os outros! Charles Spurgeon também fala sobre isso:

Atrevo-me a afirmar que os cristãos, pelo menos, sempre têm motivos de alegria. Eles nunca têm falta de ferramentas a partir das quais podem fazer a melodia ao Senhor! Se quiserem, eles podem se alegrar, pois eles têm abundância de motivos para alegrar-se. O Senhor tem feito grandes coisas para eles e eles devem acrescentar: ‘Portanto, estamos satisfeitos’. E como eles têm muitos motivos para alegrar-se, para que tenham ainda mais motivos de alegria, quando eles se alegram, eles glorificam a Deus, eles provam a realidade da sua fé e tornam a sua caminhada atraente para os outros!

As falas de Jesus sobre as bem-aventuranças em Mateus 5 são estranhas aos nossos ouvidos:

Felizes são vocês quando os insultam, perseguem e dizem todo tipo de calúnia contra vocês por serem meus seguidores. Felizes as pessoas que sofrem perseguições por fazerem a vontade de Deus, pois o Reino do Céu é delas. Fiquem alegres e felizes, pois uma grande recompensa está guardada no céu para vocês. Porque foi assim mesmo que perseguiram os profetas que viveram antes de vocês.

Se olharmos pelos olhos da humanidade, isso não parece fazer sentido. Mas, se pensarmos em dois reinos, o reino do mundo e o reino invisível, então essas falas farão sentido. A alegria não é falta de sofrimento, mas é a presença de Deus em nossas vidas. O apóstolo Paulo entende isto quando diz coisas como: “Sinto prazer na fraqueza”, ou quando ele fala para Timóteo: “Suporte comigo os meus sofrimentos, como bom soldado de Cristo Jesus”. A alegria do cristão é sua força e seu encanto — sempre há razões para ele se alegrar se pensarmos que nenhuma tristeza e nenhum sofrimento é maior que a alegria e satisfação do sacrifício de Jesus na cruz.

 
O SOFRIMENTO COMO MEIO DE APRENDIZADO

Como citei acima, Deus nos permite sofrer para que amadureçamos nEle. Talvez a maioria dos aprendizados venha de situações difíceis. Elizabeth Elliot fala disto em seu livro:

As lições mais profundas que aprendi em minha própria vida vieram dos sofrimentos mais profundos. Dessas águas mais profundas e dessas chamas mais ardentes, vieram as lições mais profundas que eu sei sobre Deus.

A autora também cita a relação do amor e do sofrimento: se eu amo eu devo saber que irei sofrer e se eu não desejo sofrer, então terei de não amar. Muitas vezes por provações e outras coisas, sofrerei por causa de Cristo, mas devo saber que essa é a vontade dEle para minha vida, e isto não anula o Seu amor, na verdade, as duas coisas andam juntas; vemos claramente o amor de Deus em nossas dores e provações, e o fato de Deus nos livrar de todas elas e nos dar paz de espírito em meio às tribulações só reforça o amor dEle.

Para provarmos de seu amor, devemos constantemente andar com Ele e aprender com Ele, pois está escrito: “Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor.” em 1João 4.8. E o amor de Deus tem sua melhor explicação na Cruz; a coisa mais cruel, onde houve o pior sofrimento, torna-se a melhor de todas as coisas, pois me redimiu. O amor de Deus tem sua demonstração com Ele entregando Seu único Filho para a salvação de um mundo perdido! Elizabeth fala em seu livro:

É apenas na cruz que podemos começar a harmonizar essa aparente contradição entre sofrimento e amor. E nunca entenderemos o sofrimento, a menos que entendamos o amor de Deus.

 
ACEITAÇÃO

A aceitação é chave para a paz, quando o assunto é sofrimento. O ponto crucial de tudo vem da cruz de Cristo; a palavra crucial vem de cruz. A cruz é a melhor coisa que aconteceu com a humanidade. Não é sobre o nosso amor por Deus, mas sobre o amor dEle por nós e sobre a Sua entrega de amor.

O amor, na forma que a Bíblia fala de amor, não é um sentimento fútil, nem uma emoção vazia: o amor de Deus não é um sentimento, é um amor voluntário e infinito, que não ordena nada menos que o melhor para nós. O amor de Deus é a vontade de Deus.

Elizabeth Elliot diz: “a vontade de Deus é amor. E o amor sofre.” E é nisso que o amor de Deus é feito; Ele estava disposto se tornar homem e sofrer as nossas dores e sofrimentos. O amor de um pai para o filho talvez chegue minimamente perto, mesmo sabendo que está muito longe, de explicar o amor de Deus. Elizabeth Elliot compara o amor de pai e mãe com o amor de Deus quando diz:

O amor está sempre indissociavelmente ligado ao sofrimento. Qualquer pai sabe disso. Qualquer mãe sabe disso. Talvez antes você soubesse apenas em teoria, mas, quando aquele bebê nasce, se a mãe ainda não havia sofrido antes — durante aqueles nove meses — , certamente chegou o tempo em que ela tem de sofrer. E, quando aquele bebê nasce e o parto termina, então todas nós, nós que somos mães, sabemos que aquilo é só o começo, não é? E nenhum pai ou mãe consegue imaginar quais mudanças haverá em sua vida, a despeito de quanto tenham lido ou de quanto tenham observado a respeito. Mas a presença daquele novo e pequenino ser humano em sua vida muda tudo. E envolve sacrifício, um dia após o outro, uma noite após a outra. Mas nem por isso você se prostra e sente pena de si mesma. Não é algo que faz você reclamar e lamentar, exceto talvez de vez em quando. Mas é algo bastante real, não é? É a minha vida pela sua. E isso, senhoras e senhores, é o princípio da cruz. Era isso que Jesus estava demonstrando. A minha vida pela sua.

Achei muito interessante o fato dela comparar o sacrifício de um pai e uma mãe com o sacrifício de Jesus. É claro, cada um em sua escala, mas do mesmo jeito que os pais dão a vida pela criança, Jesus deu Sua vida pela nossa.

A chave da aceitação é o fato de que nunca é em vão. Tudo tem um propósito, e a aceitação se baseia na fé — devemos confiar que Deus tem o melhor para nós. Temos duas alternativas: ou você crê que Deus sabe o que está fazendo ou você crê que Ele não sabe. Aceitação é um ato voluntário. A próxima etapa é dizer sim para Deus e aceitar.

Quando Paulo pediu para Deus remover o seu espinho na carne, Deus simplesmente respondeu: “A minha graça te basta…”. Outro exemplo é a oração de Jesus no Getsêmani, onde Jesus pede para Deus: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice…”. É muito justo nós pedirmos para Deus nos livrar de doenças, dores, tristezas e sofrimentos, porém logo após esta frase Jesus diz: “contudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres” e então chegamos ao centro dessa oração: Jesus, nosso maior exemplo, estava mais interessado em fazer a vontade do Pai do que Se livrar de Seus males. Assim como Jesus, que aceitou Seu cálice, Paulo também aceitou seu espinho na carne. Quando recebemos um não de Deus, podemos saber que Ele tem preparado para nós algo muito maior do que está em nossos olhos, só devemos confiar, só devemos dizer sim a Deus.

 
AGRADECER, MESMO NO SOFRER

Nós cristãos, além de termos o dever de ser alegres, também temos o dever de sermos gratos. Inclusive, isto é uma das grandes coisas que nos diferenciam do mundo: como nós sempre temos motivos para nos alegrar, nós igualmente sempre temos motivos para agradecer; e se temos tanta facilidade em agradecer quando Deus resolve nos abençoar com dádivas e presentes, também devemos ter um coração grato, quando Deus resolve nos provar. Elizabeth escreve sobre isso em seu livro:

Sim, Senhor, eu o recebo. Não teria sido minha escolha, mas, sabendo que tu me amas, eu o recebo e compreendo que, algum dia, entenderei a necessidade disso. Então, eu o recebo.

E o apóstolo Paulo fala exatamente sobre isso em 1 Tessalonicenses 5.18: “Deem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus”. A nossa mudança não depende de uma situação boa ou ruim, mas como vamos reagir à tal situação. Se ela for boa, devo agradecer, se ela for ruim, devo agradecer.

Elizabeth Elliot foi uma missionária e autora cristã que ficou muito famosa com o caso de seu marido, Jim Elliot, o qual, em 1956, foi morto por lanças de uma tribo que tentava evangelizar. Anos depois, Elizabeth se casou novamente com Addison Leitch, em 1969, e em 1973, Addison morreu de câncer. E após contar estes fatos em seu livro, ela fala sobre gratidão, dizendo,

Apenas comece a agradecer a Deus antecipadamente, pois, não importa o que esteja prestes a acontecer, você já sabe que Deus está no comando. Você não está à deriva num mar de caos.

Em meio a essas coisas, Deus ainda é amor, Deus continua soberano e este fato não anula o Seu poder. Desde o princípio, Deus sabia que o marido de Elizabeth teria câncer, e Deus ainda desejava a alegria dela. Ela nos conta um pouco sobre como estava se sentindo com tudo isso:

Essa é uma obediência voluntária, consciente e intencional, não é? Eu bendirei ao Senhor, a despeito do que estiver ocorrendo ao meu redor, pois existe aquele outro nível, aquela outra perspectiva, uma visão diferente. As coisas visíveis são transitórias. São as coisas invisíveis que, de fato, são permanentes. O veredito do médico era um fato. Eu tinha de acreditar nele. Mas a Palavra de Deus também era um fato. Consegui escrever em meu diário as seguintes palavras, as quais eu certamente teria esquecido se não estivessem ali em preto e branco: ‘Bem e em paz o dia todo’. Aqueles eram meus sentimentos. Bem e em paz.

É impressionante o nível de fé de Elizabeth, para ela confiar em Deus mesmo sabendo que viria a sofrer e sabendo que o cenário não era dos melhores. Ela confiou em Deus e Ele deu plenitude de espírito para ela. Toda a história de Elizabeth é um grande exemplo de fé e gratidão em meio ao sofrimento.

Essas histórias nos mostram que necessitamos de Jesus. Ele é a nossa força e nosso refrigério e nós só aprendemos quanto necessitamos dEle quando estamos desolados. E não importa o que passamos, sejam bençãos, dádivas, dores, angústias ou sofrimentos, devemos agradecer e nos alegrar no Senhor. Elizabeth Elliot diz o seguinte:

a graça do perdão, a paciência para esperar pela resposta àquela oração, a cura ou a serenidade em meio aos piores momentos de sua vida. Seja o que for, você pode receber e dizer: ‘Obrigada, Senhor’. Nunca agradeci a Deus pelo câncer. Nunca agradeci a Deus especificamente por alguns índios terem assassinado meu marido. Não penso que precise agradecer a Deus pelo câncer ou pelo assassinato. Mas preciso, sim, agradecer a Deus porque, exatamente no meio daquela situação, o mundo ainda estava nas mãos dele.

 
CONCLUSÃO

Qualquer um que se diz cristão deve saber que irá passar por sofrimentos; é inevitável e é uma consequência da queda. E sim, não é uma coisa agradável, o sofrimento dói, machuca, mas temos um Deus que sabe de todas as coisas e nos ama incondicionalmente, logo, não é do desejo dEle o nosso sofrer. Deus tem um propósito para o nosso sofrimento, nunca é em vão. Deus usa de nossas dores para nosso amadurecimento e para a glorificação do Seu nome. E nosso Deus é um Deus pessoal, não há um momento em nossa vida que Deus não esteja conosco. Como inúmeras passagens bíblicas dizem, Deus está sempre conosco, na vitória e na derrota, na alegria e no sofrimento. Deus sempre está ao nosso lado, sendo nossa base e nosso firmamento.

Nós temos o costume de dizer que o sofrimento e a alegria são duas coisas opostas, mas para o evangelho, eles andam juntos. Um cristão, sabendo que o seu sofrimento é momentâneo, que há algo maior que ele a seu favor, que há um propósito para seu sofrer, tem o dever de se alegrar e agradecer. Qualquer Cristão tem mais motivos de alegria do que de tristeza. Só pelo fato de Cristo ter tomado o nosso lugar na cruz, já devemos nos alegrar diariamente. Mas claro, não podemos nos iludir em uma utopia, dizendo que sempre estaremos alegres. Dias ruins e tristezas ainda virão, mas temos de ter a ciência de que não é nosso estado natural, e devemos buscar a alegria em Cristo.

Todo sofrimento que cai sobre nós, podemos usar para nosso amadurecimento em Cristo, e ainda mais, o sofrimento é uma das maneiras mais eficazes para amadurecer. É nos quebrantando que o Espírito Santo muda nossos corações e muitos quebrantamentos serão pesados e desgastantes, mas tudo para uma glória eterna, muito além de nossa compreensão. E por maior que seja nosso sofrimento, devemos aceitar a vontade do Pai. É muito válido pedirmos que o sofrimento e as dores nos sejam livradas, mas se tal dor e sofrimento for a vontade de Deus, então devemos aceitá-las, entendendo que se o Criador designou isto para mim, é o melhor lugar que eu poderia estar.

Também podemos usar Jó como um exemplo em nossas vidas. Jó era um homem íntegro e justo, que sofreu coisas inimagináveis. Porém se manteve firme no Senhor, mesmo tendo muitas tentações para se virar contra Deus. Jó chegou a questionar o seu Deus, mas o próprio Criador repreendeu Jó, e Jó se manteve justo. Pela sua fidelidade com Deus, Jó foi muito recompensado, e recebeu o dobro do que tinha antes. E com a história de Jó, podemos saber que Deus pode induzir nosso sofrer, como na história de Jó, em que Deus usa o sofrer de Jó para edificar o Seu nome e humilhar as forças malignas.

E o apóstolo Paulo, um herói para os cristãos, com uma conversão totalmente improvável. Um grande inimigo dos cristãos, acaba por ser um dos maiores cooperadores do evangelho. Paulo deu seu conforto, seu bem-estar, seu sangue, pelo evangelho que proclamava, sendo um exemplo de um sofredor cristão, mostrando sua alegria e gratidão, mesmo na tristeza. E, ao contrário de Jó, Paulo não recebeu glórias e honras terrenas, na verdade, ao final de sua vida, estava preso, machucado, sozinho. Esta talvez seja uma das coisas mais importantes deste artigo. Provavelmente, não receberemos recompensas terrenas por nossa fidelidade a Cristo. Não receberemos em dobro tudo que nós perdemos. Se for da vontade de Deus, então receberemos, mas o simples fato de sofrermos por proclamar o evangelho de Cristo é alegria suficiente. Nós já fomos redimidos em Cristo, glorificados e esperamos a vida plena com Ele. Sofrer pelo Seu nome é um privilégio. Se o meu sofrer vai ser benção na vida de outros irmãos, então irei sofrer com meu coração alegre, pois há algo muito maior por trás do meu sofrer. Não devemos esperar glória e recompensas de Deus ao passar por provações. A recompensa já nos foi dada, e agora podemos desfrutar de uma vida ao lado de Deus, esperando o dia em que Cristo voltará, e teremos a glória e harmonia que nos é prometida.

Finalizo este artigo com uma frase de Paulo (2Co 16–18):

Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia, pois os nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória eterna que pesa mais do que todos eles. Assim, fixamos os olhos, não naquilo que se vê, mas no que não se vê, pois o que se vê é transitório, mas o que não se vê é eterno.


Ian Wagner, aluno de 2022, de Novo Hamburgo. Alguém que ama conversa, música e rir.

*O conteúdo deste texto é de responsabilidade de seu (s) autor (es) e colaboradores diretos e não reflete necessariamente a posição do TeachBeyond Brasil ou de sua equipe ministerial.

Referências:

[1] ELLIOT, Elizabeth. O sofrimento nunca é em vão. 1 ed. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2020. p.17

[2] SPURGEON, Charles. Alegria em meio ao sofrimento. 1 ed. São Paulo, SP: Editora Dracaena, 2016. p.6

 

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