No mundo tereis haters

Talvez você tenha levado um tempo para lidar bem com as divergências de opiniões na vida real, o que é realmente algo desafiador emocionalmente falando. Talvez ainda esteja aprendendo, por dificuldades internas ou porque o ambiente é novo e austero. Várias são as questões que entram em jogo entre a necessidade legítima de aceitação e o querer ser amado e bem-quisto sempre.

Se o eixo é deslocado para o mundo virtual, esse complexo se potencializa, afinal, atrás de telas e na maioria das vezes escondidas em anonimato, pessoas prosseguem comentando sobre nós. Para um mundo que permanece na busca do “ser você mesmo”, mas aponta com facilidade a divergência do outro, é natural que cresça em número e em ofensas o grupo que conhecemos como “haters”.

Hater é um termo vindo do inglês para identificar um tipo de pessoa com comportamento ofensivo nas redes sociais, criticista. Quem lida com a produção de conteúdos ou, na vida real, com o palco, sabe que as críticas são inevitáveis e quando feitas adequadamente, são bem-vindas.

Mas como reagir, como cristãos, a um procedimento fiel que é mal-falado, desdito, criticado?
Em I Pedro 2.12, o apóstolo inspirado por Deus comunica:

Seja correto o vosso procedimento entre os gentios, para que naquilo que falam mal de vós, como se fôsseis praticantes do mal, ao observarem as vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação.

Pedro estava comunicando um princípio aos cristãos do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia que estavam sofrendo pelo evangelho. Ele escreve essa carta encorajando esses irmãos a suportarem os sofrimentos em obediência a Deus, tendo em vista a esperança da volta de Cristo [1].

Embora não seja essa a nossa situação, o princípio de como agir em meio a controvérsias sobre nossas ações permanece, então vamos a ele! Sejam os haters pessoas das redes sociais, sejam eles conhecidos do nosso convívio, é bom que saibamos que, ao fazermos escolhas de comportamento, entonação e preferências, naturalmente vão haver pessoas que se colocam no caminho explodindo um criticismo vazio. Muitas vezes elas não estão dispostas a conversar, muitas vezes não têm propósito em espalhar as críticas — e o fazem geralmente por se sentirem pessoalmente agredidas, mesmo que não haja base para isso.

O risco é submeter uma boa ação ao perigo de ser odiado. Mas deixa eu lhe dizer uma coisa? “Haters sempre tereis”, com o perdão do trocadilho. “Não é uma questão de ‘se’, e sim, ‘quando’”, como diz um amigo teólogo [2]. O apóstolo diz: “Para naquilo que falam mal de vós”, deixando claro que falatório acontece, e por vezes ele espalha discórdia, mentiras e inverdades; por vezes é base para calúnia, perseguições e violência, como acontecia aos primeiros destinatários da carta.

“Ao observarem as vossas boas obras” — sim, é difícil sentir que não estamos sendo ouvidos ou que estamos sendo mal interpretados, deliberadamente. Mas note aqui o incentivo: persista no bom procedimento. Faça-o diante do Senhor, faça com perseverança mesmo que ninguém veja ou ouça, ou ainda que todos estejam a observar. Deixe que a alegria do Senhor seja a sua força (Neemias 8.10) e que os outros sejam parte dos resultados que Ele controla e que você pode submeter à soberania do Pai. Saiba que “a verdade sobre nós vaza”, como sabiamente fala o Dr. Werner.

Voltando uma vez mais ao propósito inicial de Pedro ao escrever essas palavras, vemos que o olhar final do verso é de esperança na eternidade: “glorifiquem a Deus no dia da visitação”. Duas coisas importantes podemos logo absorver. A primeira é que talvez aquilo que foi mal-dito não seja consertado devidamente; ainda assim, é possível descansar em Deus sobre o assunto.

Acredite, nós sabemos que não é fácil. Ainda que não estejamos em um contexto de perseguição, muitas palavras ditas acerca do testemunho cristão podem trazer vergonha à família, à igreja e perante aqueles que não conhecem a Cristo. Muitos estragos podem ser feitos a partir de palavras mal conduzidas e por isso Tiago alerta tanto em relação aos danos trazidos com a língua. Além disso, internamente, o movimento de se recompor sem culpa perante olhares de julgamento pode ser custoso e levar tempo, mas esteja ciente de que Deus conhece toda a verdade e sua reputação está mais segura nEle do que em suas próprias mãos.

A segunda coisa é perceber que o bom procedimento resulta glória a Deus. Seja na vida ou na volta de Cristo, uma vez que a luz brilha, não há espaço para o que é falso.

O hater que mora em mim
Vamos agora a alguns princípios que nos afastam de um comportamento hater, seja nas redes, seja fora. Em primeiro lugar, prefira ouvir em primeira pessoa, ou se me permitem o uso, dê voz ao odiado. Confira os rumores, pergunte àqueles que estão envolvidos diretamente e, se for no mundo virtual, busque conteúdos onde o “cancelado” esteve realmente falando. Vá atrás de diferentes opiniões sobre o ocorrido ou informação veiculada, analise antes de tomar partido e principalmente, antes de fazer coro à melodia entoada: pode ser que ela seja muito bela aos ouvidos e não passe de uma ilusão; assim como ela pode ser uma grata surpresa de coisa boa escondida em meio aos dizeres. Para deixar ainda mais claro: dê voz, não palco — esse é um princípio de análise honesta, não de ingenuidade.

Em segundo plano, após recolher informações, tire conclusões baseadas na Palavra de Deus. Use a sabedoria que Deus dispõe aos seus filhos e procure o que deve ser feito (se houver algo a ser feito) a partir dos ruídos. Em terceira mão, não espalhe juízos perigosos sem necessidade. Às vezes temos a vil tendência de concluir com muita facilidade que juízos ruins sobre os outros são verdade e pouco fazemos questão de espalhar coisas boas que ouvimos sobre as mesmas pessoas. Afaste-se disso! Cuide para não ter um comportamento de hater e emitir opiniões sem ser requisitado ou sem que haja uma abertura para isso.

Uma comunidade estabelecida com base na confiança mútua prefere dar lugar à verdade acompanhada de graça.

 


 

Por Joyce Melo, aluna egressa de 2021, uma antropóloga aprendendo a teologar.

*O conteúdo deste texto é de responsabilidade de seu (s) autor (es) e colaboradores diretos e não reflete necessariamente a posição do TeachBeyond Brasil ou de sua equipe ministerial.

 

Referências

[1] GRUDEM, Wayne. The First Epistle of Peter — An Introduction and Commentary. Grand Rapids, MI: Eerdmans Publishing Company, 1995.

[2] Ednardo Duarte, um amigo teólogo.

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Ser alvo de críticas é inevitável, mas nossa resposta como cristãos deve ser ancorada na verdade e no bom procedimento, confiando em Deus para a glória final.

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